I'll love you for a thousand more


 Desde ontem estou tentando fazer um adendo a um post de um blog do qual faço parte. Não consegui, não sei por que. O post fala sobre fim do mundo, mas não esse que se espera no próximo dia 21, mas o fim do mundo que cada um já teve na sua vida. Eu tentei pensar nos meus, mas só consegui pensar em um, e isso porque ele já fala no próprio post. Não vale colar, então resolvi esperar para fazer verdadeiramente. Então o dia de hoje chegou. Eu já o esperava há alguns meses, pensando no que preparar para ele, mas ontem eu fui pensar em alguma coisa, e nem um pouco parecido as ideias que tive há um tempo. O mais fácil e rápido era escrever alguma coisa, relembrar meus tempos dourados e postar aqui, ou até mesmo no orkut, que era onde eu costumava fazer isso (mas aquilo já está mais que abandonado, e eu queria que as pessoas vissem). Então - não é o único, mas é o que eu quero falar hoje - meu fim do mundo é todo dia 18 de dezembro. Um dia eu fui uma fã alucinada de um casal que tanto admiro. Hoje eles podem servir como exemplo, como meu passado lindo e romântico, como aquelas pessoas que pelo tanto que aprendi com elas vou levá-las para o resto da vida comigo. Mas 18 de dezembro é especial, e parece que tudo aquilo que já superei - ainda mais por não estarem juntos - vem à tona com uma intensidade absurda. Eu poderia deixar passar, fazer um comentário apenas em alguma rede social, mas hoje se completam dez anos. Não são dez horas, dez dias, ou dez meses. São dez anos. Pelo menos uns nove eu fiz parte, mesmo que de fora. Eles me fizeram como sou em um relacionamento, eu sinto isso. Então, aqui vai algo que veio do fundo do meu coração, algo bem diferente do que eu costumava escrever quando eles era meu principal motivo, algo que de uma forma ou de outra, eu acho que vale a pena ser lido. Boa leitura, boas lembranças, e eu recomendo esse vídeo que uma amiga fez, para quem gostava deles também. Feliz dieciocho de diciembre.

-*-

Ela tentou respirar fundo e olhou em volta. O quarto ainda estava escuro devido às cortinas fechadas, e o cheiro de guardado, quase mofo, começava a ficar forte. Ela não sentia, mas só por acordar com o nariz entupido já sabia qual era a situação. Ela fechou os olhos fortemente e virou para a parede. O dia provavelmente seria longo.

Ele acordou cedo, indo direto ao banheiro a fim de tomar um bom banho. Tomou o café da manhã com o pai e voltou ao quarto. Estava cedo ainda, ele decidiu ver um seriado enquanto esperava o horário do comércio abrir. Faltava uma semana para o Natal e ele não tinha comprado presente algum.

Depois de muito enrolar, ela decidiu sair da cama, as necessidades humanas gritavam para serem realizadas. Ela olhou para aquela caixa velha em um canto no chão do quarto e depois para o espelho. Precisava dar um jeito nos olhos inchados, devido às lágrimas do dia anterior, ou seria interrogada assim que alguém a visse. Pelo menos invertera os dias e o hoje não teria razões para tristeza e depressão, como todo dezoito de dezembro costumava ser.

Quando deu o horário certo, ele saiu em direção ao shopping. Não gostava muito de passeios assim, mas era o mais fácil e prático para comprar tudo de uma vez sem ter que andar demais. Ele foi ao mais perto de casa, já bastava ter que enfrentar um lugar cheio, não precisava de trânsito também. Ele começou a andar e procurar. Tinha que comprar presentes para os pais e irmãos, além dos amigos mais íntimos.

Ela desceu as escadas e entrou na cozinha. Sua mãe preparava alguma coisa no fogão, sua irmã mexia na geladeira e seu pai estava sentado à mesa lendo jornal. Ela deu um beijo na bochecha da mãe, desejou bom dia e se sentou. Todos a encararam, disfarçadamente. Ela ignorou, não querendo perguntar o motivo dos olhares e pegou uma xícara. Ela sempre começava tomando café, mesmo que não gostasse tanto assim do gosto, mas o cheiro era divino.
- Dormiu bem, filha? – seu pai perguntou.
- Uhum, ela sinalizou com a cabeça e pegou um pão.
- Preparada para o Natal?
- Sempre – ela começou a comer. – Cláudia chega que dia, mãe? – ela perguntou da outra irmã que estava na Itália. – Tenho saudades da minha sobrinha.
- Acho que no sábado, ou então domingo. Ela fica uma semana só, vai passar a virada do ano lá.
- Okay – ela não disse mais nada, também não querendo ser interrogada. Mas era inevitável.
- Você está bem? – sua irmã perguntou. Era como se pisassem em ovos e eles pudessem quebrar a qualquer instante.
- Estou, Blan – ela suspirou, querendo que a família parasse com aquilo. – Vocês já compraram todos os presentes?
- Sim – os três responderam em uníssono e começaram a rir.
- Eu não comprei nada para Clara, acho que vou fazer isso hoje antes que fique muito em cima da hora.
- É melhor mesmo, depois as lojas ficam um inferno – Blanca, sua irmã, comentou. – Rodrigo ligou ontem à noite – ela disse calma outra vez, preocupada com os ovos. – Perguntou por que você não atendia o celular, então eu disse que já estava dormindo.
- É, eu estava vendo TV e apaguei – ela deu de ombros. – Depois eu ligo pra ele – e se concentrou na comida, mostrando a todos que não queria mais papo.

O telefone dele apitou, informando que recebera uma mensagem. Ele ignorou enquanto escolhia o presente certo para sua mãe. Mas então tocou de novo, e dessa vez era uma ligação.
- Alô?
- Buenos dias alegría! – ela sempre era feliz assim. – Que saudade de você, Ponchito!
- Oi, Annie – ele sabia que era ela. – Tudo bom?
- Tudo sim, e você?
- Beleza – ele fez que não para a vendedora que ofereceu um par de sapatos. – A que devo a honra?
- Estou ligando para desejar meus votos de Feliz Natal já de uma vez. Acredito que não farei isso no dia 24 ou 25.
- Okay. Muito obrigado, e Feliz Natal também – ele sorriu, mesmo pelo telefone.
- Hm... – ela hesitou um pouco. – Onde você está?
- No shopping. Deixei as compras para a última hora e como faltam poucos dias...
- Ah, então não vou te atrapalhar. Até mais – e ela desligou.
Ele ficou olhando para o celular por alguns segundos até que a vendedora apareceu de novo. Ele já havia escolhido o que levaria, então foi direto ao caixa pagar. Ainda com Anahí nos pensamentos e na ligação repentina, ele passou o cartão de crédito e esperou emitir a nota fiscal. Ao conferir se havia passado tudo certo, ele viu a data naquele pequeno pedaço de papel. Estava explicado o porquê de a antiga amiga ligar.

Para fugir de casa e dos olhares da família, ela resolveu comprar o presente da sobrinha de uma vez. Não tinha ideia do que dar, já que a menina não havia feito um ano ainda e não tinha a mínima noção das coisas a sua volta. Ela iria ao shopping, lá teria várias opções em um lugar só. Entrou no carro e foi em direção do centro comercial mais próximo ou mais vazio, de preferência.

Ele caminhava olhando as vitrines um pouco aéreo. Não queria pensar naquele dia que tinha tanto significado, mas já não era o mesmo há tanto tempo. Foi quando passou de frente uma loja de produtos musicais que soube o presente certo para comprar para a pessoa que não entregaria. Ele lembrou do passado, de um dia em específico muito distante, 2007 se não lhe falhava a memória. Ele sorriu e entrou na loja, compraria mesmo que não a visse, que não entregasse. O prazer do comprar já bastaria. Ou não.

Ela andava pelo shopping nervosa. Havia feito a escolha errada, ficar em casa dentro do quarto era o mais correto. Tantas coisas passavam por sua mente que ela poderia ficar até mesmo descontrolada. Ela não gostava disso, ela já havia superado, deixado para trás, mas aquela data era sempre especial, mesmo que de uma forma ruim. Ela lembrava como um alcoólatra que sempre sabe o dia certo que parou de beber e quanto tempo faz desde então. Ela devia se concentrar, ou poderia surtar ali, no meio de tanta gente.

Ele achou ter sido sua imaginação, uma vez que começara a pensar nela assim que percebera o dia de hoje. Os cabelos estavam diferentes, ele ainda pensava ser mais fácil reconhecê-la pelo tom vermelho, mas ela já não usava esse há uns dois anos. Ela estava morena, assim como quando estiveram juntos. Mas a diferença no corte, nas roupas e no jeito de andar era tão grande que ele tinha essa dificuldade. Sacudiu a cabeça e decidiu ir comer alguma coisa na praça de alimentação.

Ela não encontrara nada para a sobrinha, que fizessem todos falarem um sonoro “owwn” quando o presente fosse desembrulhado, então optou por um andador. Logo ela já estaria grande e sabia muito bem que a irmã ou o cunhado não haviam comprado um. Ela aproveitou e comprou um livro com muitas gravuras e poucas palavras. Ia demorar muito para que Clara aprendesse a ler, mas ela gostou da ideia de incentivar a leitura. Então seu telefone tocou.
- Bueno?
- Oi, Dul – ela sorriu ao reconhecer a voz da amiga. Havia acabado de trocar de celular e ainda não tinha passado os contatos para o novo aparelho. – Onde você está?
- Comprando o presente da Clarinha no shopping. Por quê?
- Eu ia passar na sua casa, posso fazer isso mais tarde então?
- Pode sim – ela disse sem pensar. Mas agora já pensava no erro que cometera. – E Pedro?
- Saiu – Ivalu deu de ombros do outro lado da linha, mesmo a amiga não vendo. – Nos vemos mais tarde então – e desligou.
Ela ficou olhando para o aparelho por alguns segundos, pensando que deveria comprar uma capa bem na moda para ele. Então ela o viu, ela sabia que era ele. E seu coração começou a bater forte demais, sem controle e podendo ter uma síncope ali.

- Eu te reconheceria em qualquer lugar – ela fez questão de se aproximar. Não que realmente quisesse, ela até tentara evitar.
- Eu sabia que tinha te visto há uma hora atrás ou algo assim – ele indicou a cadeira a sua frente para que ela se sentasse. – Mas você está tão diferente e quase não nos vemos mais que pensei ter sido minha imaginação – ela sorriu. – Deixou as compras para a última hora também?
- Apenas a de Clara – ela olhou para a grande sacola nas mãos. – E você?
- A de todo mundo – os dois riram. – Como você está?
- Bem – ela deu de ombros, mostrando naquele gesto que não estava bem realmente. – Natal, tempo de renovação... Você sabe como é.
- Sei, e por isso mesmo eu diria que você não está tão bem assim – ela estreitou os olhos. – Você costuma não gostar do Natal.
- Isso é verdade. E você ainda se lembra – ele que deu de ombros dessa vez.
- Olha a coincidência: comprei um presente para você!
- Sério? Uau.
- Eu vi e quis comprar, mesmo que não entregasse.
- Como não nos veremos depois, pode me entregar agora – ela estendeu a mão. Ele tirou o presente de uma das sacolas e depositou na mão dela. Ela ficou em silêncio por um tempo, absorvendo o significado daquilo.
- Uau. De novo. Muito obrigada, Poncho, isso significa muito de certa forma – ela era completamente sincera, e demonstrava isso com os olhos também.
- Eu vi e não consegui não comprar. Tem muita coisa por trás disso, todo um passado que não nos pertence mais, mas as coisas boas sempre ficam na memória.
- Eu poderia até mesmo chorar agora – ela forçou a língua por dentro da bochecha, como fazia sempre que estava com raiva. – Mas como estamos em público, não farei isso – ele assentiu. – Não comprei nada para você.
- Te ver aqui, hoje, já é um presente – ela sorriu apenas, não querendo falar demais para que as emoções não aflorassem.
- Dez anos – ela respirou fundo, tentando se recompor. – Aconteceu tanta, tanta coisa nesse meio tempo! Mas são dez anos, e não tem como passar isso em branco.
- Não, não tem – ele desviou o olhar dela. – Você está linda, sabia?
- Já são 27 invernos. As pessoas costumam dizer que quando se aproxima dos trinta tudo melhora.
- É verdade – ele disse se gabando e ela lhe deu um tapa de leve nos ombros. Mas logo se arrependeu pelo contato físico.
- Eu tenho que ir – ela olhou para o pulso, como se consultasse seu atraso no relógio, mas não havia nenhum ali. Ele sabia que era uma desculpa.
- E a vida segue.
- Uhum – ela deu uma última olhada na palheta que ganhara antes de guardá-la na bolsa. – Foi muito bom te ver, Poncho.
- Também foi bom te ver, Dulce – ela sorriu, com seu nome nos lábios dele. Era o máximo que teria. Ou talvez um abraço. – Posso? – Ele leu seus pensamentos ao abrir os abraços, os dois já em pé.
- Sempre – e eles se abraçaram.
Era tudo que teriam, eles sabiam disso. Então não se importaram de ficar ali por mais que segundos. Nenhum dos dois queria ser o primeiro a soltar, mas um tinha que tomar o partido. Então ela o fez, com muito custo.
- Você não vai ficar com raiva se eu te disser uma coisa – ou três, ela pensou – ou criar esperanças ou sei lá?
- Não – ele disse sem entender. Ou começando, assim que ela sorriu.
- Três palavras – ele sorriu, sabendo o significado daquilo. Era como um mantra dela, ela sempre dizia isso naquela data desde que não namoravam mais.
- Duas palavras – ele respondeu à altura. – E vai embora logo. O mundo acaba essa semana e eu não quero ficar me lamentando por isso – os dois riram.
- Tchau, Poncho – ela pegou a sacola do chão e o encarou. – Obrigada pelo presente e até ano que vem, ou até o fim do mundo. Vai saber.
- Até um dia, Dulce – e ele se afastou, percebendo que ela demoraria demais para fazê-lo.

Era algo que eles não conseguiam explicar. Era forte demais, era grande demais. Um único e sublime sentimento, os dois sabiam disso. Mas eles também sabiam que apenas isso não bastava. Por isso era assim, dez anos, mas oito de separação. Já fazia tanto tempo e nada mudara que eles desistiram. A vida seguia, ela agora tinha Rodrigo e como o amava! Mas era como vira em um filme quando mais nova: o primeiro amor, sempre vai ser especial, importante, lembrado a vida toda mesmo que não se falem mais. Ele respirou fundo enquanto saía do shopping, voltar para casa, ligar para algum amigo ou um irmão para sair e aproveitar o dia era muito bem vindo agora.

2 comentários

  1. Sinto que o comentário será gigante... Just wait.

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  2. primeiro, a música do título é LINDA e se encaixa com a história deles... ouvindo e lendo (de novo) vai ser combinação perigosa. não se assuste com o quase-post de comentário e imagine umas lagriminhas durante a escrita dele.

    "meu fim do mundo é todo dia 18 de dezembro"
    achei tão... verdadeiro. sl, só quem já viveu os dois pode afirmar isso com tanta sinceridade. e eu acho que concordo.

    uma hora ela, outra ele ): que lindo, af

    e família dela sabendo da situação e tentando perguntar mas sem se meter muito uhaeouehaoueha achei engraçado os três sem jeito

    jura que o puto só soube a data olhando no papel do cartão? aeouhaueohauoeha vou matar!

    "o presente certo para comprar para a pessoa que não entregaria" ))):
    e isso me inspirou! porque você não postou antes pro meu não sair atrasado? aoeuheuoae

    "mas aquela data era sempre especial, mesmo que de uma forma ruim" af, você tem umas quotes que, plmdd!

    "Ia demorar muito para que Clara aprendesse a ler, mas ela gostou da ideia de incentivar a leitura" vou copiar essa ideia, socorro, aouheuoahoe

    "- Bem – ela deu de ombros, mostrando naquele gesto que não estava bem realmente. – Natal, tempo de renovação... Você sabe como é." as reações dela me matam. tô com vontade de chorar aeuhaoeuheo

    "- Não, não tem – ele desviou o olhar dela. – Você está linda, sabia?
    - Já são 27 invernos. As pessoas costumam dizer que quando se aproxima dos trinta tudo melhora.
    - É verdade – ele disse se gabando e ela lhe deu um tapa de leve nos ombros. Mas logo se arrependeu pelo contato físico." merda, podia tanto ser real.

    "– E vai embora logo. O mundo acaba essa semana e eu não quero ficar me lamentando por isso – os dois riram." muito meu <3

    tá, não vou falar mais nada.

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