Sobre alguém especial.


- Alô? - Bárbara atendeu o telefone que tocava escandalosamente.
- Oi! - Alice a saudou do outro lado da linha.
- Olha, quem é vivo sempre aparece!
- Nem faz tanto tempo assim - Alice resmungou. - Te liguei no seu aniversário.
- Verdade, havia me esquecido disso.
- É a demência da idade - Alice gargalhou.
- Alice, vá à merda! - e Bárbara riu também. - Por que você está me ligando tão próximo da última vez que nos falamos? Normalmente nossas ligações são mais espaçadas.
- Você se esqueceu que dia é hoje?
Bárbara ficou em silêncio tentando lembrar a data. Ela apertou um botão em seu celular e a tela se iluminou, revelando as horas e o dia. Então ela sorriu, não apenas com os lábios, mas um sorriso que contaminava seus olhos também, vindo direto da alma.
Não adiantava quanto tempo passasse, Alice se lembrava sempre da primeira vez que se falaram, há tantos anos. E ela fazia questão de contar, mostrando há quanto tempo eram amigas, já que a afinidade foi instantânea. Não passava um ano, naquela data específica, que ela não entrasse em contato, seja ligando ou apenas com uma mensagem cheia de dizeres bonitos.
- Apesar da sua memória ser péssima, tem coisas que você não esquece.
- Pessoas especiais devem ser lembradas - Alice respondeu.
Elas nunca sabiam exatamente o que falar nessas datas específicas. Alice era péssima para desejar qualquer felicitação, fosse de aniversário, natal, ou até mesmo um bebê que nasceu. Porém, por mais que fosse péssima como ela mesma dizia, sempre falava de forma que tocava o coração de Bárbara.
- Bá? - ela chamou, já que a amiga ficou em silêncio. - Eu só quero te dizer que você é realmente alguém muito especial pra mim. Mesmo que eu não demonstre muito isso, mesmo que outras amizades entrem na nossa vida.
- Alice, para.
- É verdade. A gente se conheceu há tanto tempo, quando eu era praticamente uma criança e você pouco mais que isso, e, ainda que não nos falamos com a mesma frequência daquela época, você... Você é você.
- Claro. Se não fosse eu, quem mais seria?
- Lá vem vocês com as piadas nos momentos fofos da nossa amizade. Normalmente eu que faço isso.
- De vez em quando é bom variar.
- Chata. É sério o que estou falando. Você ajudou a moldar a pessoa que eu sou hoje. Já falei isso várias vezes, mas gosto de frisar.
- Você também me moldou. Nos conhecemos na época em que nos descobríamos. Uma influenciou na outra de alguma forma.
- Às vezes acho que eu mais, talvez pela idade que eu tinha na época, não sei. Eu era mais moldável.
- Você nunca vai saber - Bárbara deu um risinho. - Para com a parte melancólica e diz logo que você me ama e não vive sem mim.
- Algo assim - Alice também riu. - Por mais pouco que eu fale, você consegue captar toda a minha essência. Eu acho isso legal. Você me entende de forma que poucas pessoas nesse mundo o fazem.
- Talvez porque somos parecidas, talvez porque essa relação também funcione muito bem ao contrário.
- Deve ser.
Ambas deram uma pausa, respiraram fundo e sorriram. A amizade delas era tão estranha e tão profunda que às vezes assustava.
- A gente se fala então.
- Okay. Tchau.
- Tchau.

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