Verdades que você nunca quis escutar




Era complicado entrar com ele ali, era a primeira vez que fazíamos isso e provavelmente a última. A casa estava a mesma coisa que nove meses atrás quando eu vim, e dei graças por termos dinheiro, aquilo ali tudo não teria utilidade alguma. Me perguntei como faríamos já que tinha o quarto que seria nosso, um para Analú e um sobrando, eu o colocaria para dormir em qualquer lugar que não fosse comigo. Fui até a cozinha e sorri ao ver mantimentos ali, ele deve ter mandado alguém abastecer também além da limpeza.

- Não quero, mamãe – Analú reclamou assim que me aproximei com um prato nas mãos.
- Mas tem que comer, senão não agüenta o pique do mar.
- Mas macarrão?
- Filha, nós acabamos de chegar completamente cansados, foi a comida mais rápida que pensei em fazer – ela deu de ombros. – Está gostoso, vai?
- Eu não sinto o gosto de nada mesmo – passei a mão por seu rosto e lhe beijei a testa.
- Por pouco tempo, se tudo der certo no começo do ano que vem você já vai estar legal – ela assentiu e comecei a lhe dar de comer.

Ela acabou comendo tudo e quis logo correr para o mar. Coloquei um biquíni azul em nós duas e sentei com ela embaixo da sombrinha que Poncho já havia colocado em frente toda aquela imensidão azul. Ela não queria ficar quieta, queria sair correndo e entrar na água, mas não dava, não no horário que estava.

- Tem que passar o protetor, fadinha.
- É melequento – ela fez uma careta.
- Mas essencial. E não pense você que já vai correr para a água, só mais tarde.
- Por quê?
- O sol ta muito forte, Analú, não é bom para nenhuma de nós duas – ela fechou a cara. – Você mesma passa na sua cabeça? – ela não gostava muito que tocassem, além de mim.
- Passa pra mim? – sorri enquanto assentia e passei o protetor ali. – Mamãe, já passou na barriga? – ela olhava com aparente curiosidade.
- Ainda não, mas vou passar.
- Posso? – ela abriu um lindo sorriso e assenti outra vez. – Vai crescer um tantão, não vai? Igual da dinda?
- Não, igual da tia Mai quando teve a Mel e a Gio, você lembra? – ela fez uma careta.
- Só um pouquinho.
- Vai ficar grandona, isso te garanto. Já está dando pra ver e eu só estou no terceiro mês. Quando eu engravidei de você, seu pai só foi descobrir no sexto.
- Você não ficou com ela grande?
- Não, você era bem pequenininha, muito mesmo. E ainda é – lhe pincelei o nariz.
- Você também é pequena, bate no ombro do papai.
- É, eu sou bem pequena. Talvez você tenha puxado isso de mim.
- O que as mulheres da minha vida estão fazendo? – Poncho chegou de repente e sentou ao nosso lado. – E esse nariz sujo de protetor? – ele passou o dedo pelo nariz dela e limpou.
- Mulheres da sua vida? – arqueei uma sobrancelha e ele assentiu; cachorro.
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