- Bueno? – ela atendeu mais uma chamada naquele dia. – Por favor, seja rápido que estou em
outro país! – ela ouviu uma risada do outro lado da linha e soube no mesmo instante quem
era. – Oi, Poncho.
Ele não disse nada no primeiro instante. Quis se deliciar com o próprio nome – ou apelido – ao
som da voz dela. Era tão doce, apesar de estar carregado de ironia, que ele quase podia sentir
o chocolate derretendo. Como a cor dos olhos dela.
- Estas son las mañanitas que cantaba el Rey Davi y hoy por ser día de tu santo te las cantamos
a ti... – ele cantou, com a voz quase rouca.
- Obrigada, de verdade – ela continuava doce. Talvez fosse a data. Ou talvez Clara realmente
fizera um bem à família. – Como você está?
- Para quem está do outro lado do mundo e queria desligar rápido... Está até puxando papo! –
ela riu dessa vez.
- Você vale alguns reais gastos – ele riu do outro lado da linha, se sentindo importante. – E não
estou do outro lado do mundo, apenas alguns países abaixo de você.
- Okay, perdoada – ela riu novamente. – Eu estou bem, e você?
- Bem – ela era transparente até na voz. – Brasil outra vez, você sabe como é.
- Se sei! Bela maneira de comemorar data tão especial!
- Uhum – ela hesitou. – Queria estar com minha mãe, mas estou feliz de qualquer forma.
- Sua mãe? Já não está na idade de “desgarrar”? Já são vinte e sete!
- Eu sei. Talvez. Acho que não quero. Sou muito dependente dela, você sabe disso!
- E como sei – ela fez língua, mas ele não pôde ver. – Não vou gastar seus milhões numa conta
de telefone, okay? Aproveite a estadia aí nesse país maravilhoso e faça com que os vinte e sete
valem à pena. Tudo de bom que você merece.
- Obrigada.
- Faça bons shows... E... É isso – ele não sabia exatamente o que falar, além de parabenizá-la. – Feliz aniversário, barrilete.
- E você tinha que me chamar assim! O que me faz lembrar que caso se esquecesse de me
parabenizar hoje, seria um homem morto quando eu voltasse ao México. Eu não aceito
felicitações do dia anterior.
- Eu nunca esqueço, Dulce.
- É, eu sei – ela deu uma risadinha. – Obrigada, Poncho. Nos vemos quando eu voltar. Ou não.
- Nos falamos por aí.
- Isso, nos falamos. Tchau.
- Tchau.
Ele tirou o telefone do ouvido e sorriu sozinho, pensando nas várias coisas que treinou para
falar e nem metade delas foram ditas. Ela pensou em como seus aniversários já foram
parabenizados um dia, em como tudo mudou nos últimos anos, como nada era como antes. E
talvez – ela mesma ainda não tinha certeza – ela quisesse que fosse.
Ela queria que fosse como antes? Awn!
ResponderExcluirAf, nao aguento ler sobre esses dois... Ja me deu vontade de escrever tb! LINDO! As always!
Esqueci completamente de Rodrigo enquanto escrevia :p
ResponderExcluirescreve aí pra eu ler também.
Tão adorável! Deu saudades deles. Fez sorrir.
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