Sobre sonhos e a vida.


Dim dom! A campainha tocou. Alice não esperava ninguém, não naquele dia em questão. Ela olhou em volta para ter certeza que todos que pertenciam àquela casa estavam ali e franziu o cenho ao constatar que sim.
- Dim dooooom - a pequena Sophia, sentada no chão, disse. - Dim dom, dim dom, dim dom.
- Ei, eu ouvi - Alice falou para que a menina parasse de repetir.
Sophia apenas fez uma careta e voltou a se concentrar em seu brinquedo. Alice secou as mãos no pano de prato, ajeitou os óculos no rosto e caminhou em direção à porta. Ela ficou surpresa ao ver quem estava do outro lado.
- Olááááá! - a visitante saudou. Alice ainda estava surpresa. - Ei, não vai ao menos me dar um abraço e me convidar para entrar? Está bem frio aqui fora.
- O que... O que você está fazendo aqui? - Alice disse assim que abraçou a amiga. Ela tinha cheiro do seu país natal, e isso fez com que o abraço durasse mais que o esperado.
- Você convidou e eu resolvi aceitar. Pois aqui estou.
- Meu Deus, entra logo! - Alice fechou a porta assim que a amiga entrou na cozinha.
- Você não estava falando sério? Você só me convidou por educação?!
- Algo assim - Alice gargalhou. - A casa é pequena, mas eu sei que você não se importa.
- Claro que não. E essa menina linda aqui? - ela tirou as luvas e apoiou as mãos no joelho para que ficasse mais baixa.
- Sophia, essa é Bárbara, amiga da mamãe.
- Bááá...
- Pelo menos ela já acertou o apelido - Bárbara riu. - E meu Deeeeeeus, tem quantos meses que você está aqui?
- Por quê?
- Parece que você nasceu aqui - Bárbara olhou em volta. - A TV ligada no jogo, a casa cheirando a torta de abóbora e alguma ave...
- O peru é muito grande pra nós três. Ou até mesmo nós quatro, com você aqui. É frango - Alice voltou a cozinhar o que estava fazendo.
- Falando nisso, cadê o maridão?
- Tomando banho.
- Hm... Mas então, vim passar esse feriado maravilhoso que você ama. Não é todo dia que a gente tem um amigo morando nos States.
- Olha como ela fala - Alice riu. - Mas você é sempre bem-vinda, sabe disso - Bárbara piscou. - Porém, se tivesse me avisado, eu teria me organizado melhor e te levaria em Nova Iorque.
- A gente passeia por Detroit mesmo - Bárbara sentou-se na mesa, visivelmente cansada. - Posso fazer uma observação?
- Claro.
- Você engordou. Mais ainda.
- Nossa, mal chega na minha casa e vai falando isso.
- Você não liga - Bárbara deu de ombros.
- Verdade. Mas posso fingir estar ofendida.
- Não sei pra quê. Não é, Sophia? - ela se virou para a menina que levantou a cabeça ao escutar seu nome. - Sua mãe é gorda e fresca.
- Mamãe?
- Ela mesma. Você não está grávida, está?
- Talvez?
- O QUÊ?! Como assim? Nossa, você não é imprevisível mesmo.
- Na verdade sou, você que me conhece bem demais - Alice fez uma careta. - Eu não tinha cabeça para nada com a mudança, então me esqueci de algumas pílulas e TCHARAM! - ela se virou para Bárbara e mostrou a barriga. - Outra criança.
- Você é doida, sabe disso, certo?
- Claro que eu sei. A gente acabou de se mudar, vamos ficar só dois anos...
- Dois anos? - Bárbara a interrompeu. - Não era um?
- Já mudou pra dois.
- Daqui a pouco vocês ficam pra sempre. Aí você pode comprar uma casa maior com um belo quarto de visitas para me hospedar.
- Folgada.
- Sempre. Mas então Sophia terá um irmãozinho.
- Exatamente.
- No masculino? Você está de quantos meses?
- Quase cinco.
- Mas só tem três que você mudou.
- Uhum.
- Já escolheu o nome?
- Nem ideia.
- Não sendo Bernardo, você pode colocar o que quiser.
- Chata.
- Bernardo é meu desde sempre, do mesmo jeito que Sophia era seu. Apesar que eu achei que você mudaria. Você gosta de apelidos e Sophia não tem um.
- Pode ser Soph.
- Aqui, no Brasil não. O mesmo motivo de eu ter certeza que ela não chamaria Rachel.
- É. As pessoas falariam Raquel e o apelido seria Quel. No, thanks.
- Viu? Te conheço.
- Nunca falei que não. Sophia, vem lavar a mão.
- Não - a menina respondeu. - Bááá...
- Eu sempre acho que crianças nessa idade não entendem nada e falam sozinhas. Maaaaaas, como você supostamente me chamou, eu vou pegá-la no colo - Bárbara o fez e a menina resmungou. - Ei, - elas se encararam - você está gorda igual a sua mãe.
- Ela não é gorda, Bárbara - Alice reclamou.
- É sim, e sabe por quê? Porque ela é pequena demais. Como não estica, tudo se acumula. Igual a mãe.
- Você é chata, hein? Ela só tem um ano e meio.
- Sou igual a você, querida. Só que como ela é um bebezinho ainda, ela é muito linda. Muito gostosa e eu vou morder essas bochechas enormes! - Bárbara já falava com voz de criança. - As bochechas dela são maiores que as minhas.
- Não - Sophia choramingou.
- O que eu fiz?
- Você falou que ia morder, ela não gosta.
- Ta bom, não vou morder. Posso apertar? - a menina assentiu com a cabeça.
- Papai.
- Ele sempre pede para apertar - Alice explicou por que a filha chamou o pai sem motivo aparente. - Vai lá chamar ele, Sophia - a menina fez esforço para que Bárbara a colocasse no chão. - Fala que o jantar está pronto - e ela saiu correndo.


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