Just one wish.


Ela estava deitada na cama, dormindo serenamente. Gustavo a observava sempre que podia, apenas nesses momentos ela parecia com a Letícia que conheceu há tantos anos. Com a gravidez, os hormônios dela estavam cada dia piores e ele não tinha um momento de paz. Sua calma rotineira havia ido embora e dado lugar à agitação. Ele ainda tentava se acostumar com aquela nova pessoa de humor inconstante.
Não demorou muito para que Letícia acordasse. Agora, já nas suas vinte semanas, ela se sentia desconfortável o tempo todo. Não tivera enjoos, mas em compensação a azia, o mal estar, os gases, já a acompanhavam há algumas semanas. Ela não conseguia dormir muito tempo sem sentir dor na barriga, e não era nada relacionado ao bebê.
- Você continua fazendo isso - ela resmungou com a voz meio drogue.
- Fazendo o quê? - Gustavo perguntou.
- Me observando. Sempre que eu acordo você está com essa cara - ela esfregou os olhos e se recostou na cabeceira da cama. - Parece que sou um animal no zoológico, é estranho.
- Você é estranha - Gustavo fez uma careta.
- Tanto faz, mas para - ela deu uma risadinha e pegou o celular ao lado da cama. - Acho que estou com fome?
- Você acha? - Gustavo riu. Ela sempre dizia que achava, nunca dava certeza.
- É.
- Okay, e o que você acha que quer comer?
- Não sei - Letícia respondeu pensativa. - Você vai me xingar.
- E desde quando eu faço isso?
- Verdade, você é bem paciente - Gustavo piscou, concordando. - É algo estranho.
- Pior que sorvete com pipoca?
- Estava gostoso! O sorvete doce e gelado com a pipoca salgada. Deu certinho.
- Continuo com a opinião de que você é estranha.
- Okay, eu já entendi isso - Letícia revirou os olhos. - Hoje eu quero arroz.
- Ta, isso é fácil. E normal.
- Com Nutella.
- Putz, Letícia, você é doida? Isso deve ser horrível!
- Mas é o que me deu vontade de comer, ué. Não tenho culpa.
- Tem sim - ele levantou da cama. - A culpa é toda sua.
- E sua, porque não fiz esse filho sozinha.
- É... - Gustavo fez uma careta. - Pode ser o arroz que já ta lá?
- Incrementa ele com algumas coisas? Pode ser o que você quiser.
- Tem certeza? Você não vai fazer cara feia e desistir de comer?
- Tenho sim, vai lá.
Gustavo deu sorte que havia tudo que ele precisava ali. Ele pegou o arroz na geladeira, misturou com cenoura, milho, ervilha, um pouco de massa de tomate para dar uma cor, ervas e o bacon apenas no prato dele. Aquela mistura ficaria horrível com Nutella, mas foi isso que ela pediu.
- Gustavo, tem homus? - ela gritou do quarto e ele riu.
Depois de pronto, fez dois pratos: o seu apenas com o arroz e o dela com um pouco de arroz, uma colher de Nutella e uma de homus. Só de pensar em comer aquilo tudo junto ele se sentia enjoado.
- Aqui está - meia hora depois ele voltou ao quarto. - Você vai comer isso de verdade?
- Vou - ela se ajeitou na cama e pegou o prato. - O cheiro está maravilhoso.
- Para cada um separado, não todos juntos.
- Não importa, Gu. Na barriga fica tudo junto mes... O meu não tem bacon! - ela olhava do próprio prato para o dele.
- Você não come, então não pus.
- Mas... - Letícia mordeu o lábio inferior. Céus, a gravidez a deixava louca! - É bacon!
- É carne de porco.
- Eu... - ela fechou os olhos bem forte por alguns segundos. - Só um pedacinho. Bem pequenininho.
- Tem certeza?
- É claro que não! Mas eu estou com vontade - ela fez uma careta, pegou um pedaço pequeno do bacon, misturou com a Nutella e comeu. Tudo bem rápido. - Mal senti o gosto.
- Não importa, você comeu carne do mesmo jeito. Carne de porco! - ele queria rir, mas sabia que a deixaria furiosa e chateada ao mesmo tempo.
- Não quero mais - ela deu de ombros e comeu tudo que estava em seu prato bem rápido.
- Não venha reclamar de desconforto depois, me ouviu? Você comeu tudo muito rápido.
- Eu vou me sentir mal mesmo se tivesse comido devagar. Hoje o problema é a dor nas costas.
- Sua barriga já está gigante! - os olhos dele brilhavam. - Quando saberemos o sexo?
- Próxima consulta, eu acho - Letícia tentou esticar a coluna, mas era quase impossível.
- Vem cá - Gustavo a colocou entre suas pernas. - Vou fazer uma massagem em você.
- Deixa pra lá, Gu. Leva os pratos para a cozinha e vamos deitar.
- Você não vai conseguir dormir, sabe disso. Me deixa tentar amenizar isso um pouco, se não melhorar a gente toma um banho.
- Banho não vai adiantar nada - ela resmungou, apreciando as mãos dele em suas costas e barriga.
- De banheira. Vai fazer você relaxar um pouco.
- Uhum - Letícia fechou os olhos. - Acho que não vai precisar.

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