- Bueno? – ela atendeu o telefone como sempre. Mas
ninguém respondeu. – Alô? Tem alguém aí? – ela riu, gostosamente. Estava de bom
humor o suficiente para não se importar com gracinhas ou trotes. – Okay, eu vou
desligar porque tenho mais o que fazer. By…
- Oi – ela franziu a sobrancelha e tirou o telefone da orelha
para olhar o visor. O número era um qualquer que ela desconhecia. – Desculpa por
ter demorado, mas é estranho falar com você depois de tanto tempo.
- Eu sei – ela sorriu, sincera.
- Você não acreditaria se eu contasse – ela respondeu com um
sinal de riso. – Já volto. Oi – ela se voltou ao telefone. – Que milagre é esse,
você me ligando?
- Não é milagre algum. Eu sempre te ligo quando acontece algo
de importante na sua vida – ele tinha razão. – Eu queria falar com a sua irmã
também, mas não arriscaria ligar na sua casa, e eu não tenho o telefone
dela.
- Ela está aqui, quer que eu passe?
- Não sei ainda – ele hesitou. – Parabéns.
- Não fui eu que dei à luz – ela riu. – Os parabéns não são
meus.
- Mas agora você é tia – ele deu de ombros, mas ela não pode
ver. – Clara, não é esse o nome?
- Não precisa fingir que não sabe – ela o conhecia
perfeitamente bem. – E obrigada de qualquer forma.
- Disponha – ele riu de leve. – Como está sendo esses primeiros
dias? Você já a deixou cair?
- Eu não faço isso – ela se sentiu ofendida. – Apenas sufoco os
bebês – ela lembrou de um episódio distante. Ele apenas riu de leve, outra
vez. – Talvez eu esteja começando a pegar o jeito. Minha irmã está hospedada
aqui em casa, e o tempo que passo aqui sem mamãe ou minha outra irmã no pé de
Clarita, fico o tempo todo que posso com ela.
- Bom que vai treinando para o futuro.
- É… – a resposta dela ficou vaga, deixando outras coisas
subentendidas. – Tem certeza que não quer falar com Claudia?
- Não se seria uma boa ideia.
- Ela não morde. E ela sempre gostou de você, acho que não há
problemas.
- Mande lembranças por mim, pode ser?
- Acovardando? Você costumava ser mais corajoso, eu era a
covarde.
- Eu sei, mas as coisas às vezes mudam. Se bem que eu não
chamaria isso de covaradia. É mais como amadurecimento.
- Ah sim, velhce – ela riu. – Esse ano já se vão vinte e nove,
estou certa?
- Idade não é nada.
- As rugas já apareceram? Na verdade, elas já existem, mas
acentuaram?
- Por quê? Isso fará você pensar outra vez?
Ela ficou calada, e no mesmo instante ele se arrependeu do que
havia dito. Cadê a maturidade mencionada antes? Parecia o mesmo adolescente de
dez anos atrás. Era sempre assim quando se tratava dela, tudo o que planejava
para a ligação parecia uma história da Carochinha.
- Okay, me desculpe outra vez, mas não resisti.
- É, eu te conheço – ele sabia que ela não sorria, estava
apreensiva agora. – Você está feliz?
- Não cem por cento, ainda. Mas estou muito feliz.
- Que bom, eu também estou.
- Eu sei disso. E estou feliz por isso também, ainda que eu não
tenha a mínima ideia de quem ele seja.
- Não se faça de bobo, já sei que puxou a ficha dele com
qualquer pessoa que ambos conheçam. Como eu disse, te conheço.
- Isso é verdade – ele respirou fundo e ela viu a oportunidade
de retomar o que seria o principal da ligação.
- Tem certeza que não quer falar com a minha irmã? – ele não
respondeu de imediato. Sabia que ela fugia, como sempre.
- Não, prefiro assim – ela deu de ombros, mas ele também não
pode ver. – Mas diga que mandei lembranças e felicidades.
- Digo sim – ele ficaram em silêncio por alguns segundos. –
Sendo um pouco rude, mas posso desligar? Clara acabou de mamar e não tem ninguém
por perto, eu realmente quero segurá-la mais um pouquinho.
- Tudo bem – ela assentiu. – Se cuida.
- Você também – ela ficou olhando para o aparelho enquanto
esperava ele desligar e se perguntando por que não o indagara sobre aquele
número.
Hmm, que número é esse, hein? Da Perla? UAOEHAOUEHA
ResponderExcluirE perfeito... Viajo completamente. Entro na história e não quero mais sair, me vêm lembranças de antigamente, dos dois :(
ele ta com ela ainda? nem sei.
ResponderExcluirsempre :)