Probably.


Ela estava sentada no sofá, jogando Candy Crush  no celular e pensando como poderia estar na Itália em uma hora dessas. A vida estava tão diferente do que esperava quando chegasse àquele ponto, que ela só queria se isolar por um tempo. Mas seu aniversário era amanhã e sua mãe sempre fazia questão de estar em casa para parabenizar a filha caçula desde a hora de acordar, como fazia há 27 anos.
O celular apitou de repente, fazendo o jogo travar e fechar, e Dulce disse um palavrão antes de abrir a notificação. Era uma felicitação de aniversário. Ela fechou a cara no mesmo instante. Seu aniversário ainda não tinha chegado. E era ele mandando. E ele não a chamara de barrilete como vinha fazendo há anos, apenas de ardilla.
Sério que você vai me desejar feliz aniversário hoje, dia 5?
Ela ficou esperando a resposta, mas esta demorou muitos minutos para chegar.
Não sei se estarei acordado à meia-noite.
Ponto. Apenas isso. Dulce franziu a testa um pouco, empurrou a bochecha com a língua e resolveu indagá-lo.
Aconteceu alguma coisa?
Não.
Esse 'não' já disse que sim. O que foi?
Não é nada, Dulce.
Ela podia enxergá-lo dizendo aquela frase. E a forma como seu nome soara, não era nada boa. Como se ele estivesse irritado, como se pedisse para ela parar de insistir. E ela detestava esse tom.
Obrigada pelas felicitações.
Ela enviou, se irritando também. Estava cansada desse joguinho que já durava anos e não levava os dois a lugar algum. Bom, talvez tivesse levado ele ao relacionamento mais sério de todos, um apartamento compartilhado e um cachorro enorme. Que por sinal, a um tempo atrás, ele detestava. Dulce olhou para sua cachorra aos seus pés, e riu, meio amargurada. Toda vez que olhava para Rosetta se lembrava dele.
Ela abriu o aplicativo do Candy Crush para continuar jogando e pensou que ainda tinha dois anos para que todos os seus planos se concretizassem. Arrumar um namorado, dar um jeito de vez na carreira e, quem sabe até lá, estar casada. Seriam seus pedidos na vela de 28 amanhã, ela mentalizou isso para que não esquecesse. E esquecer um certo alguém, esse seria o principal pedido de todos. Ou talvez o único, ele bastava para que os outros se realizassem por si só.

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