Eternity


- Quantos problemas de cabeça você tem, Ana Luísa? - foi a primeira coisa que ele disse assim que ela atendeu o telefone - Eu estou namorando, sabia?
- Do que você está falando, Daniel?
- Ainda se faz de ingênua - ele tinha total ironia na voz, ela podia até mesmo imaginar um sorriso junto. - Você tem falado umas coisas que…
- Espera aí. O que eu falei e onde eu falei?
- Você sabe do que eu estou falando - ele era completamente sério dessa vez.
- Quem te garante que sou eu? - ela riu.
- Abre a porta, Ana, eu estou aqui fora.
Ela arregalou os olhos antes de deixar o braço pender sobre o sofá. Como ela ficara em silêncio, Daniel desligou a chamada. Ana Luísa olhou em volta e riu, era incrível como o destino pregava esse tipo de peça nela. Sentada no sofá, com os pés pra cima e uma xícara na mão esquerda - intercalando com o cigarro, agora, sobre o cinzeiro -, ela tomou mais um gole do café antes de pousá-lo sobre à mesa a sua frente. Ela pegou o cigarro e foi até a porta.
- Oi - ela disse antes de soltar a fumaça que havia tragado.
- Você voltou a fumar? - Daniel entrou, rapidamente, e perguntou enquanto ela fechava a porta.
- Não, isso não é um cigarro, você está imaginando coisas - ele apenas a olhou. - Para todos os efeitos eu não fumo mais. Mas então, a que devo a honra da sua visita?
- Não se faça de tonta, Ana Luísa. Você disse algumas coisas sobre mim, sobre o nosso passado…
- Epa epa! Eu não citei nomes, quem te disse que era sobre você?
- Faça uma análise dos seus ex-namorados e vai entender como cheguei nisso. E Rodrigo? O que diabos aconteceu com ele?
- Nada - ela fechou a cara e não tinha mais o tom brincalhão. - O que você quer, Daniel? - ela tragou o cigarro novamente e ele reparou nos dedos, nos lábios, no olhar. - Você sempre soube o que eu pensava, acho que isso sempre foi claro - ela deu as costas para ele e voltou a se sentar no sofá. - Você tem a opção de aceitar ou não, simples assim. Você sempre ignorou isso, por que agora?
- Trinta. Eu fiz trinta esse ano.
- Ah é - ela deu uma olhada nele antes de jogar as cinzas no cinzeiro para que não caíssem. - Você falava algo sobre decidir sua vida aos trinta.
- Você também - ele deu de ombros.
- Ainda tenho dois anos para pensar no que fazer.
Enquanto ela fumava o cigarro e bebia o café, Daniel ficou a observá-la. Ana Luísa usava um short curto e uma blusa de frio enorme, o que era comum já que ela era desprovida de tamanho. Parecia alheia a tudo a sua volta, mas ele bem sabia que não, não com ele ali. Então ele pensou no passado, em quantas vezes imaginara um momento como aquele e, ainda sim, diferente. Meu Deus, como ele queria desfazer o nó do cabelo dela, deitá-la no sofá e sentir a pele macia sob a sua! Daniel sacudiu a cabeça antes de voltar a falar.
- Eu estou namorando, Ana. Já tem um tempo.
- Eu sei.
- Você também.
- É… - a resposta dela fora tão vaga e indiferente que ele se perguntou se havia algum problema no relacionamento dela.
- Eu gosto dela.
- Então por que veio aqui? Basta me ignorar, Dan. Você fez isso por… 4 anos. O resto da sua vida não vai fazer diferença.
- Como se fosse fácil - ele resmungou e ela apagou a bituca do cigarro.
- Eu falo sério. Esquece que eu existo, esquece o caminho da minha casa, esquece o número do meu telefone. Não é tão difícil assim.
- Ana…
- Oi, Daniel? - ela se levantou, ficando mais próxima a ele. Daniel se crucificou por isso, mas ele percebeu que ela não usava sutiã sob a blusa.
- Você sabe, não sabe? - ele deu um passo a frente.
- Uhum. Por isso você está aqui - a voz dela era mais mansa, mais baixa.
- Tr…
- Não - ela o cortou, colocando os dedos sobre os lábios dele. Tinham cheiro de nicotina e isso combinava com ela. - Eu posso me arrepender disso depois, mas eu preciso que você as diga - ele hesitou, então sorriu enquanto passava o braço pela cintura dela.
- Eu te amo.
- Eu também - ela falou antes de sorrir e enlaçar o pescoço dele.
Ela tinha gosto de cigarro com café e os cabelos cheiro de melancia. E ao sentir tudo de uma vez, ele percebeu o quanto sentia falta disso, dela.
- Dan… - ela suspirou, com a boca colada a dele.
Ele apenas voltou a beijá-la e a deitou no sofá. Não precisavam mais de palavras.

3 comentários

  1. Respostas
    1. Só AFF? hahahah
      Eu me sacrifico pra escrever isso e você diz AFF? hasuhaushaushas :p

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  2. "Esquece que eu existo, esquece o caminho da minha casa, esquece o número do meu telefone. Não é tão difícil assim."

    Pra mim já deu, adeus, não consigo lidar com isso.


    Ai. Suspirei.

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