Quando tudo muda.


Ela estava deitada na cama, talvez dormindo, ele não sabia ao certo. A passos lentos, Guilherme se aproximou. Ele sorriu. Naquele instante ela  era a mulher que viu caminhar pela praia assim que chegou à cidade, tantos anos antes. Agora ele se lembrava, já haviam se encontrado antes de todo aquele império, antes da cidade inteira - ou até mesmo o estado - ficar entre os dois. Pensando bem, ela ainda não era uma mulher, parecia mais uma menina frágil e delicada naquela época.
Rachel resmungou alguma coisa e se virou. Aos poucos ela abriu os olhos, ainda sonolenta. Já pensando na entrevista do dia seguinte e qual roupa vestiria, ela percebeu que encarava as pernas de alguém. Em um pulo para trás, ela identificou Guilherme ali.
- O que diabos você está fazendo aqui?! - ela tinha o coração na boca.
- Desculpe, eu...
- Desculpe uma ova! - Rachel esbravejou. - Como você entra na minha casa assim?! Será que eu não tenho um segurança que presta?! - ela olhou em volta, como se procurasse por um chapéu mágico que abrira um portal e ele passara por ali.
- Rach...
- Senhora Prefeita pra você - ela deu um sorriso irônico. - Por Deus, Guilherme, você não pode entrar na minha casa assim!
- Eu precisava te ver - ele falou de uma vez, antes que ela pudesse interrompê-lo de novo. - Eu tentei, Rach, eu tentei.
Rachel fechou os olhos. A voz dele estava tão carregada, ainda que suas feições não demonstrassem nada, que ela se abalou. Era sempre assim, ele tentava ocultar, justamente como ela fazia. Mas a voz, o tom, o timbre, tudo denunciava. Se apegando àquilo, ela percebeu que também sentia a falta dele.
- Não, você precisa voltar pra sua oficina, pra sua casa, pra onde quer que seja! Mas você não pode simplesmente vir aqui porque precisava me ver. Nós não estamos mais juntos, Guilherme. Você deixou isso bem claro.
- Eu não me importo com nada daquilo, pequena.
Ela fechou os olhos outra vez. Ele sabia como desarmá-la.
- Você diz isso hoje, agora - a voz dela já estava embargada. Rachel engoliu o choro e abriu os olhos. - Mas daqui um ano, ou até menos, nós teremos aquela mesma conversa. Pra quê perdurarmos mais se isso - ela balançou a mão entre os dois - não vai ter futuro?
- Eu te amo, Rachel - e ela arregalou os olhos porque, por mais que fosse óbvio, aquelas palavras nunca foram ditas.


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