- Mãe? - ela apareceu na cozinha e sentou-se à mesa, olhando a mãe frente ao fogão.
- O que foi, filha?
- Eu acho que to crescendo - a menina fez uma careta e a mãe olhou para ela no mesmo instante.
- Claro que está.
- Não, não assim - ela olhou para o chão, tentando buscar uma forma de explicar a mãe o que ela queria dizer. - Eu não gosto mais de brincar de bonecas - a mãe riu, jogando a cabeça levemente para trás.
- Isso é normal, filha. Você está começando a deixar de ser uma criança.
- Mas mãe, eu sabia que ia crescer um dia, mas eu nunca ia deixar minhas bonecas de lado! Eu fiz uma coleção, poxa! Mas hoje, eu estava olhando para todas elas e, com exceção de algumas, tive vontade de dar para alguém.
- Isso acontece, com qualquer pessoa.
- Mas não comigo!
A mãe riu outra vez. Sua filha estava, definitivamente, entrando naquela fase confusa, aquela que todas as crianças querem chegar e todos os pais querem pular. Ela era tão certa dos seus gostos e opiniões, que era um insulto agora não gostar mais do seu maior vício. Mas tudo na vida são fases, suas própria mãe dissera isso. Ela se lembrava quando era fã de uma super banda e, de repente, parou de acompanhá-la. As pessoas crescem, amadurecem, mudam as preferências. Talvez sejam assim até se tornarem velhas demais para argumentarem com si mesmas.
- Filha, pare de se importar com coisas tão... amenas. Você vai se apaixonar e desapaixonar pelas coisas com uma rapidez ao longo da sua vida, que verá que não vale a pena se martirizar tanto assim.
- Martirizar?
- Se torturar.
- Você tem certeza, mãe? Por que agora isso parece o fim do mundo.
- Agora. Olha a sua idade. Suas preocupações, por enquanto, são apenas as bonecas, os ídolos, os programas de tv. Daqui um tempo serão os garotos, a faculdade... Viva a vida, e o que tiver de ser, será.
Me identifiquei. Com a mãe dessa vez. Espero conseguir ter conversas assim com meus filhos... Daquelas em que as entrelinhas falam mais que qualquer coisa, sabe como? ;)
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