Hope you don't mind, if you stay by my side

Acho que essa foi a última coisa que escrevi sobre os dois. E isso já tem um mês e meio. É estranho, para mim que sempre, o tempo todo, estava escrevendo algo sobre os dois, principalmente na realidade deles. Eu não sei o que aconteceu, mas parece que houve um bloqueio. Eu pensei em continuar isso aí, desde o dia 28 passado que penso em algo, mas simplesmente não flui. Eu não sei como será daqui pra frente, eu até pensei em não mostrar isso pra ninguém, mas hoje li algo antigo que me fez lembrar os dois. Esses que já não estão no meu pensamento todos os dias. Às vezes tento me perguntar o que está havendo, mas não obtenho respostas. Então vou vivendo cada dia de cada vez, sem me importar muito. Ou pelo menos tento. Enfim, aproveite, assim como eu aproveitei quando escrevi cada letra, cada sentimento e toda a minha imaginação.

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- Alô? - ele acordou com o toque do celular, então sua voz era rouca. - Alô? - disse mais uma vez já que ninguém respondera. Estava pronto para xingar quando ouviu uma leve respiração do outro lado da linha. - Oi, Dulce.
Ela achou que a voz dele estaria mais irritada ao pronunciar seu nome. Primeiro porque o acordara, segundo porque era ela. Haviam se falado há tanto tempo desde a última vez, e fora tão desastroso, que ela esperou pedras na mão dele. Não havia flores, tampouco, era mais como uma bandeira branca de rendição.
Então ela começou a apreciar o som da voz dele pronunciando seu nome. Ela sentia falta disso, de como ele o dizia e mais ninguém fazia igual. Ela sentia falta dele, essa era a verdade. E ainda achava incrível como ele conseguia saber que era ela, por uma respiração apenas. Ou talvez ela fosse a única que ligasse de madrugada.

- Oi - sua voz era meiga, singela, amedrontada. Ela estava com medo da reação dele, talvez ele ainda estivesse assim porque não havia acordado por inteiro. - Desculpa pelo horário - ela falava baixinho.
- Tudo bem - ele estava calmo demais, ela percebeu isso. - Eu sei como você não gosta de falar comigo durante o dia, como pessoas normais. Eu sei que você se esconde na noite.
Ela sorriu. Mas depois de um segundo, não soube exatamente por que. A declaração dele não era um elogio, muito menos um simples comentário. Ela decidiu que ele jogara isso na sua cara, como um tapa. E teve a mesma intensidade.
- Queria saber como você está - ela fingiu ignorar. Talvez manter uma conversa cordial não os levasse a  brigas.
- Estou bem - ele resmungou. - E você?
- Também - ela continuava falando baixo. - Seu aniversário está chegando.
- Uhum - ele parecia um pouco hostil, mas ela decidiu arriscar, de todo jeito.
- Você... Você vai comemorar?
- Ainda não sei - a voz dele soava indiferença. - Você quer ser convidada? - havia sarcasmo dessa vez. Ou apenas ironia, ela não soube definir ao certo.
- Não - e ela foi verdadeira, não fazia sentido. - Eu só...
- Você pode falar um pouco mais rápido? É que eu estou com sono e está difícil me manter acordado.
- Desculpa - ela pediu outra vez. Mas era muito mais que sua demora ou o horário de novo. Esse pedido era mais profundo.
- Diga logo, Dulce - e ela franziu o rosto, percebendo como o tom mudara, como esse ‘Dulce’ era completamente diferente do outro, nas piores formas possíveis.
- Eu queria te desejar feliz aniversário.
- Você ligou pra isso? Bom, ainda falta alguns dias, eu não me incomodaria se você ligasse quando chegar.
- Não é isso - ela tinha medo de seguir em frente. Mas sabia que seria pior depois, se não o fizesse. Ou talvez não. - Eu queria te ver, te dar seu presente... - e ela parou. Ficou escutando a respiração dele, tentando igualar a sua que estava um pouco afobada. Ela fechou os olhos e contou até cinco, fingindo que ele não estava ali, do outro lado do telefone, porque isso desencadearia uma falta de ar e depois sua bronquite, ela tinha certeza.
- Você pode passar aqui dia vinte e oito.
- Eu não quero - ela foi mais firme dessa vez. - Eu sei que de um jeito ou de outro você vai comemorar. Que irão te ligar o dia inteiro, aparecer aí... Eu quero ter tempo, eu não quero que me apressem.
- Por quê? - ele beirava a curiosidade.
- Você sabe como sou propícia a fugir - ela riu, nervosa. - Não quero ter motivos.
- Isso é bom - agora soava quase com orgulho. E ela sorriu. - Aqui ou aí?
- Aqui. Aí eu teria a desculpa de ir embora por algo inventado - ele riu, divertido. - Dia vinte e sete, pode ser? Eu prefiro antes do que depois.
- Tudo bem, eu apareço aí.
- Eu vou te esperar.
- Eu sei, pequena - e ela chorou. Não compulsivamente, apenas uma lágrima solitária. Aquele adjetivo, tão simples, mas tão único entre os dois. Era sinal de carinho, de amor, de tudo que passaram juntos, de trégua. Ela limpou a lágrima. - O que você está fazendo?
- Nada - a voz dela era um pouco embargada, ele percebeu. - Sentada no chão, implorando para que o sono venha.
- Desde quando você não dorme? - e agora era seu ex-namorado ali, preocupado. Seu melhor amigo.
- Não sei, um tempo - ela deu de ombros, como se ele pudesse vê-la. - Uns dias...
- Eu gostei do seu cabelo - ela percebeu que ele mudou de assunto propositalmente, para dar espaço a ela. - Me remete ao passado, escuro como ele está.
- É, quando olhei no espelho, achei que tinha dezoito anos outra vez - e nesse ano já completaria vinte e seis.
- Eu posso cantar pra você?
- Cantar? - ela se assustou. Ele detestava cantar.
- É, pra você pegar no sono. Eu sei que você gosta quando eu canto assim, pra você dormir. Ta deitada? - ela disse que não. - Então deita. E tenta não tomar café amanhã, se contenha apenas como cheiro, eu sei que você gosta disso também - ela sorriu, enquanto se levantava do chão e deitava na cama, no meio de vários travesseiros e um edredom. - E arruma a sua cama, amanhã você vai conseguir dormir melhor.
- Como você sabe que ela está bagunçada?
- Certas coisas nunca mudam. Você sempre a enche de travesseiros, para não parecer que está sozinha, e deixa tudo uma bagunça. Mas isso não te faz dormir, você sabe, pequena - ela começou a chutar os cinco travesseiros pra longe, deixando apenas um. - Bom fim de noite e até dia vinte e sete.
- Até - a voz dela era lenta, incitando o sono, saboreando cada palavra que ele dizia, e esperando pela canção de ninar. Ele costumava dizer isso quando estavam juntos e ele a fazia dormir.
E ela dormiu, mais calma que antes, mais calma do que o pouco de mês que já havia se passado e que ela estivera nervosa o tempo todo. Ela dormiu, esperando pelo dia vinte e sete e sonhando coisas boas.
Do outro lado da linha, ele sorriu. Sentia falta dela, meu Deus, como sentia! Mas havia tomado uma decisão na sua vida. Mesmo que ansiasse por ela, não iria correr atrás. Por mais que não duvidasse que a amava, ele não admitiria. Ele devia isso a si mesmo, ele devia um tempo dela. Mesmo que o que mais desejasse era pegá-la no colo e amá-la, como não fazia há um bom tempo.

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